segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A relação do Controle Inibitório, Atenção e Memória, com a aprendizagem!


Toda aprendizagem depende do desenvolvimento sensório-motor, ou seja, das interações com o ambiente e pessoas, além dos processos neurobiológicos de amadurecimento. Entre os processos neurobiológicos de amadurecimento estão as funções executivas.

Sendo assim, quero trazer pra vocês um breve esclarecimento sobre o papel das funções executivas na aprendizagem, ou seja, vamos falar sobre as nossas competências superiores. Elas envolvem a seleção, a análise e a manipulação de informações de maneiras novas. Elas se desenvolvem durante toda a infância e adolescência e são determinantes para o sucesso do indivíduo na vida pessoal e profissional. São as últimas a se desenvolverem e as primeiras a falharem, como consequência do envelhecimento e de disfunções neurológicas.

Quero chamar atenção, em especial, a uma das funções executivas mais importante, o "controle inibitório". Como o próprio nome já diz, é um controle inibidor, mas inibidor do que? Você entenderá a seguir. Ele é desenvolvido no decorrer da infância e da adolescência, é ele que permite ao indivíduo suprimir os impulsos e pensar antes de reagir ou de falar. Você deve estar pensando: "Agora eu entendi alguns comportamentos, principalmente nas redes sociais!". Pois é!

O controle inibitório está relacionado à várias outras funções, como atenção e memória de trabalho. Ele está ligado tanto à condutas sociais quanto habilidades cognitivas básicas, como o domínio da atenção diante de estímulos concorrentes. Por exemplo, quando estamos em uma sala de aula, lá fora os carros continuam passando, no corredor ouvimos vozes de pessoas falando, sons de passos, mas o que o sistema inibitório faz é nos ajudar a focar à atenção no professor, por exemplo, ignorando todos estes outros estímulos.

Ele responde por todas as situações que requerem o autocontrole e a resistência à tentações, como comidas, jogos, compras e outros vícios. Em outras palavras, é a função da DISCIPLINA, é o que nos permite FOCAR em uma tarefa até que ela seja concluída, apesar da vontade de ceder a outros estímulos. Impede-nos, por exemplo, de mandar uma mensagem grosseira a alguém que nos provocou! Essa função oferece recompensa tardia, ou seja, esforçar-se agora para ser recompensado depois.

É impossível falar de controle inibitório sem falar de "inteligência emocional", que é uma das competências mais valorizadas, sobressaindo sobre o QI. Pessoas com um QE bem desenvolvido possuem mais chances de alcançarem o sucesso profissional e pessoal. Muitas pessoas chegam a idade adulta sem exercitar seu controle inibitório, o que leva a muitos problemas de relacionamento. Erros relacionados a falta de capacidade de esperar e de ponderar para agir são percebidos nas diversas formas de relações, inclusive nas redes sociais.

Em uma pesquisa realizada no ano de 2011, um grupo de pesquisadores liderados por Terrie Moffitt, acompanhou a vida de cerca de 1000 pessoas por um período de 30 anos. Concluiu-se que as crianças - de 3 a 11 anos de idade - que apresentaram um melhor desempenho em tarefas que dependiam do sistema inibitório tinham, também, maior probabilidade de se manterem na escola durante a adolescência, além de terem menos chances de fazerem escolhas arriscadas ou consumir substâncias ilícitas. Além disso, eles perceberam que, quando adultos, as pessoas estudadas apresentaram melhores condições de saúde e maior remuneração. O controle da impulsividade mostrou-se mais importante do que outros fatores, como QI, classe social, gênero ou circunstâncias familiares.

Na infância, o controle inibitório, começa a se desenvolver através do controle dos esfincteres e o saber esperar. Uma dica de atividades que ajudam a criança a desenvolver o autocontrole são as artes marciais, pois além do movimento do corpo, regras e objetivos, envolvem questionamentos que levam a reflexão sobre o próprio comportamento e sobre a importância da disciplina e do planejamento, mas sem desconsiderar o presente.

Quando olhamos para o cenário atual educacional, observamos muitas vezes, que a educação se precipita em alfabetizar crianças em idade pré-escolar ou se preocupa demais em repassar conteúdos acadêmicos, sendo que atividades lúdicas e esportivas, que trabalhem o controle dos impulsos e que ensinem a esperar antes de responder ou agir, poderiam trazer resultados mais significativos para o desenvolvimento cognitivo e até mesmo para o desempenho acadêmico das crianças. Vale relacionar aqui os conhecimentos da neurociência com os 4 pilares da educação para o século XXI: aprender a conhecer (motivação), aprender a fazer (prática, experiência), aprender a conviver (neurônios espelho - empatia) e aprender a ser (maturação cerebral - autorregulação).

O controle inibitório impacta na memória? Sim. Uma vez que a criança ou adulto não consegue ignorar os estímulos do ambiente sua atenção estará prejudicada e, por consequência, sua memória. Existem vários tipos de memória, uma delas é a memória de trabalho. Este tipo de memória utilizamos para compreender e manipular as informações. Imagine que você iniciou a leitura deste artigo, sua memória de trabalho é usada para que você consiga compreender o texto, a sequência desde o primeiro parágrafo. Recorremos a ela também para compreender números envolvidos em uma operação mental, por exemplo. As informações manipuladas podem ser verbais ou visuoespaciais.

Uma criança com dificuldade de controlar a atenção, ignorando os estímulos concorrentes, apresentará problema para iniciar e terminar uma determinada tarefa, uma vez que seguir uma sequência de comandos na mente sem ser interrompida é um grande desafio.

Pessoas com memória de trabalho fraca apresentam dificuldade em organizar uma lista de tarefas mentalmente que precisam ser executadas ou seguir uma série de instruções. Imagine que você passou uma lista de tarefas para uma criança, para que consiga cumprir ela precisará ignorar os estímulos que aparecerão no caminho e manter o foco no seu objetivo, porém, a criança do exemplo, cumprirá a primeira tarefa e passará para outra atividade que apareceu no meio do caminho, perdendo o foco. Ou seja, em crianças com dificuldades atencionais é muito comum este tipo de comportamento, uma vez que à atenção está relacionada à memória de trabalho.

Podemos concluir então que, investir tempo no desenvolvimento do controle inibitório desde a infância é de suma importância para o sucesso dos indivíduos, pois terá grande impacto no aprendizado, uma vez que para aprender é necessário ter foco e atenção na atividade que está sendo executada.


GRATIDÃO

Cristiane Saraguci
Psicopedagoga Clínica e Institucional
FanPage: @conexãodoaprender

Referência Bibliográfica:
DIAMOND, A. Executive Functions. Annual Review of Psychology, v. 64, p. 135-168, 2013. Disponível em Link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4084861/






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