segunda-feira, 17 de junho de 2019

Brincadeira é coisa séria para o desenvolvimento cerebral


A aprendizagem acontece desde o momento em que nascemos. Inicialmente chegamos ao mundo com nossos movimentos reflexos e instintivos. Observe o bebê recém-nascido, como ele sabe que deve sugar para se alimentar? As crianças, desde a maternidade, têm a capacidade de interagir e aprender. Já nascemos com uma ferramenta importante no processo de aprendizagem: a imitação! Sabe aquele momento em que você passa perto do berço e mostra a língua para o bebê e ele responde de volta mostrando a língua também? Pois é, tudo isso faz parte do desenvolvimento e da aprendizagem. Podemos dizer que nascemos com um "aparato biológico de imitação". A aprendizagem ocorre por meio da inter-relação entre o biológico e o meio.

Segundo Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018) a imitação configura a primeira interação social dos seres humanos, mas que envolve uma capacidade intelectual peculiar, uma vez que imitamos outro ser humano e não objetos. Ou seja, qualquer brincadeira aplicada por qualquer pessoa a crianças pode ser reproduzida, iniciando de forma mais simples em relação a gestos e movimentos. e passando, com o tempo, a uma complexidade maior.

Agora você entende porque o "exemplo" é mais importante para a criança do que a nossa fala? A imitação é um mecanismo natural da criança. Sendo assim, o estímulo do brincar também é extremamente importante para a formação do processo de aprendizagem. O brincar está ligado intimamente aos seres humanos e ele varia de acordo com a faixa etária, pois vai aumentando sua complexidade conforme o avanço de maturação do ser.

Existe também uma diferença entre brincadeiras, jogos, brinquedos e atividades lúdicas. Os jogos, por exemplo, possuem mediação de regras, ou seja, é uma brincadeira que exige mais do exercício cognitivo como atenção, concentração, tomada de decisão e respeito a regras. O brinquedo, por sua vez, é um objeto utilizado para o processo do brincar, por isso é importante escolher bem os brinquedos que serão disponibilizados, pensando no objetivo que se deseja atingir com ele, pois para o desenvolvimento motor existe uma diversidade de brinquedos que podem auxiliar nesta construção. Já as atividades lúdicas englobam todas as mencionadas anteriormente.

Infelizmente as brincadeira tradicionais de amarelinha, esconde-esconde, pega-pega, estão cada vez mais raras. Bicicleta, bola, patins, bonecas, carrinhos, estão deixando cada dia mais de serem os brinquedos favoritos das crianças, uma vez que na sociedade atual a tecnologia virou referência de lazer, trabalho e conhecimento. O problema é que esse fenômeno influencia diretamente, de forma negativa, o desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social da criança, já que o sedentarismo e o isolamento andam juntos com a tecnologia.

É comum vermos uma criança que nem foi alfabetizada andando por aí com um aparelho eletrônico nas mãos, e o pior, sem um objetivo específico, muitas vezes apenas para ocupá-la e mantê-la "quieta". A consequência? Maior probabilidade de ter dificuldades no processo de aprendizagem, que acaba sendo comprometido pelo motivos citados acima. A linguagem, tanto escrita como oral, se desenvolve a partir da primeira infância. É nesta fase que a criança receberá as ferramentas necessárias para conseguir segurar um lápis corretamente e iniciar seu processo de alfabetização, além de aprender a conviver em sociedade, se relacionar e desenvolver suas habilidades emocionais. A criança precisa se movimentar para aperfeiçoar seus movimentos, sua coordenação motora grossa e fina serão desenvolvidas a partir das brincadeiras, gestos e movimentos trabalhados na primeira infância. E a socialização também faz parte deste processo de conhecimento do eu, do outro e do mundo, para um desenvolvimento psicológico saudável.

A intenção do artigo não é criticar indiscriminadamente a tecnologia, mas trazer uma reflexão sobre a a importância do brincar para o desenvolvimento saudável da criança. A tecnologia pode e deve sim ser utilizada pelas crianças, mas não de forma irresponsável. A substituição das brincadeiras que exigem movimentos físicos por jogos eletrônicos, vídeo-games, computadores, tablets, celulares, podem comprometer seriamente a saúde física e emocional da criança, uma vez que podem provocar isolamento e sedentarismo, para comprovar basta analisar os índices de obesidade e transtornos psicológicos infantis, eles vêm aumentando nos últimos anos como consequência deste fenômeno tecnológico. O Ministério da Saúde estima que 33% das crianças brasileiras, entre 5 e 9 anos, hoje já estejam acima do peso. Já entre os jovens com idades entre 18 e 24 anos, o percentual de obesos aumentou em 110% nos últimos 10 anos país. Bem preocupante não é verdade?

Para Mattoso (2010, p. 31): Em pleno século XXI onde a tecnologia está cada dia mais avançada, as pessoas adquirem doenças e problemas psicológicos frequentemente. A tecnologia com os processos de automação leva as pessoas a assumirem uma vida sedentária, já que, a comodidade, rapidez e flexibilidade na aquisição de informação diminuem o esforço das pessoas em buscar fontes alternativas de lazer, trabalho e estudo.

Se as consequências para os adultos já são graves, imagine para as crianças. Elas acabam adquirindo muito cedo doenças psicológicas, acabam tendo dificuldade de se relacionar e conviver em harmonia com diferentes modos e costumes, que são adquiridos através da socialização, da relação com outras crianças e famílias, ou seja, em sociedade. As brincadeiras no parque e nas áreas externas contribuem para esse desenvolvimento, e lógico, a escola de educação infantil faz parte deste processo, porém os pais não podem achar que somente a escola fará esse papel, existe na família um papel fundamental de parceria para que essa criança se desenvolva de forma saudável na sua integralidade.

Sendo assim, a educação por meio do brincar, estimula a criança, por exemplo, a aprender algo novo, criar hipóteses, usar a imaginação, se relacionar com o outro e com o mundo, e potencializar a sua criatividade. Funções como atenção, memória, linguagem, entre outras, serão aperfeiçoadas. Lembre-se, a aprendizagem tem uma ligação direta com a motricidade (movimentos), por isso incentive as brincadeiras que exigem mais movimentos, equilibre o uso da tecnologia e incentive a criança a brincar fora de casa, inclusive participando das brincadeiras, será divertido e você estará fortalecendo seu vínculo afetivo com a criança!

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Gratidão!

Cris Saraguci 
Pedagoga com Habilitação em Adminsitração Escolar
Pòs-graduada em Psicopedagogia
Pós-graduanda em Neuropsicopedagogia
Personal & Professional Coach SBCoching
(11) 98315-1410
up2udesenvolvimento@gmail.com






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