terça-feira, 8 de outubro de 2019

Prevenindo as dificuldades e problemas de aprendizagem


Primeiro gostaria de esclarecer o termo designativo "dificuldade de aprendizagem". Dificuldade é qualquer coisa que atrapalhe, não é algo específico. Se aprender é um esforço, então, podemos dizer que, quando algo me tira deste "esforço de aprender", passa  a ser uma dificuldade. Por exemplo: dificuldade de controlar a curiosidade para olhar o celular ou assistir à televisão, não conseguir ficar sentado por muito tempo no mesmo lugar, hábito de ouvir música enquanto estuda, enfim...algumas atitudes ou comportamentos que podem interromper o aprendizado e gerar a dificuldade.

Dificuldade é um termo genérico, ou seja, qualquer um pode ter uma dificuldade de aprendizagem. Nestas situações é preciso examinar minuciosamente todos os elementos que podem estar interferindo na aprendizagem, aqui podemos considerar fatores como ambiente, condições, atitudes, entre outros. O problema pode não estar no sujeito, mas sim fora dele. É preciso descobrir qual é o agente de interferência que está dificultando a aprendizagem do sujeito.
"Para entender o que o outro diz, não basta entender suas palavras, mas também seu pensamento e suas motivações." Lev Vygotsky
Agora, quando usamos o termo designativo "problema de aprendizagem", estamos dizendo que existe um obstáculo que o sujeito precisará transpor e que exigirá mais esforço. Aqui podemos incluir, por exemplo, a falta de repertório,ou seja, ele não possui  a condição necessária para executar determinada tarefa. Podemos encontrar, com esta característica, boa parte das crianças com dificuldade no período de alfabetização. É preciso salientar, que para uma criança ser alfabetizada, existem requisitos mínimos que não podem ser negligenciados, sem estes requisitos a criança apresentará problemas nesta fase. Quais são os requisitos? Coordenação motora, noção de espaço, direção e quantidade, domínio da linguagem oral, consciência fonológica, conhecer o alfabeto, desenvolvimento cognitivo (atenção, concentração, percepção, memória, etc), discriminação auditiva, discriminação visual.

Quando falamos em não ter repertório nos dirigimos para  o campo da "limitação", A LDA (The Learning Disabilities Association of America) nos apresenta algumas classes de problemas, que são:


  • Problemas de Leitura ( Visão )
  • Escrita
  • Auditivo e Verbal
  • Matemáticos
  • Social/Emocional



Nestes casos, é preciso transformar estes problemas em algo que possa ser transposto. Por exemplo, quando dizemos que "temos um problema de visão", é um problema, geralmente, fácil de resolver, basta ir ao oftalmologista e provavelmente você passará a usar óculos.

O importante é entender as razões que cercam o sujeito e que podem lhe permitir avançar, porque os problemas costumam ser pontuais. Nestas situações é possível observar, muitas vezes, julgamentos errôneos das pessoas que convivem com o sujeito, demonstrados através de falas como: "É falta de interesse!", "Não presta atenção porque não quer saber de nada!", entre outros. Sem empatia é impossível ajudar estes indivíduos!

Imagine uma criança que convive diariamente em uma sala de aula onde a maior parte dos amigos está lendo e escrevendo, a professora aplicando exercícios nos livros, e ele simplesmente perdido, sem conseguir ler e responder nada. Como fica a auto-estima desta criança? Encontramos crianças com problemas sociais e emocionais, fatores que interferem no aprendizado, com muita frequência. Crianças que são negligenciadas pela própria família, pela escola e até pela sociedade. Crianças que vivem em ambientes pobres em estímulos, sem acompanhamento dos pais ou familiares em relação aos estudos. As chances dessa crianças apresentar problema é enorme! Quero deixar uma reflexão:

"Se você fosse essa criança, com dificuldade, em uma sala de aula padronizada, onde todos caminham e você fica para trás, como você se sentiria e que tipo de vínculo você acredita que faria com a escola e o aprendizado? Positivo ou negativo?"

Em sala de aula é preciso colocar em prática todo o conteúdo teórico que Lev Vygotsky, Piaget, Maria Montessori, e muitos outros nos deixaram. Se o aprendizado ocorre na relação com o meio e  com o outro, porque vemos tão poucas trocas em sala de aula? É a fase que eles mais precisam interagir, discutir, criar, argumentar.
"O maior sinal de sucesso para um professor...é para dizer: As crianças estão trabalhando como se eu não existisse." Maria Montessori
O que observamos são padrões difíceis de serem quebrados, carteiras enfileiradas, criança olhando a cabeça da outra criança, sem contato visual, olho no olho. Por que não experimentar coisas novas? Carteiras em meia-lua ou crianças sentadas em duplas para realizarem atividades juntas, por exemplo. No início todos podem estranhar, é normal, pois temos medo do novo, porém somos seres que se adaptam aos ambientes e situações. É preciso sair da "caixinha". É preciso organizar as crianças de forma que possam aprender umas com as outras, onde elas possam se expressar mais, dar opinião, pensar juntas e o professor consiga mediar este conhecimento de forma significativa.

Imagine uma criança que ainda não possui o repertório necessário tendo a oportunidade de aprender com o colega que já possui, podendo se expressar, experimentar e participar da aula, sem o constrangimento de ficar apenas observando todos fazerem algo que ele ainda não consegue, por falta de repertório. 

Quando falamos em prevenção, estamos falando de algo que devemos fazer antes que determinados problemas apareçam, se não eliminá-los, irá, ao menos, reduzi-lo. Neste ponto é preciso ter empatia, criatividade e interesse, pois é preciso mergulhar e se aprofundar nas teorias, com o objetivo de levar novas experiências para a sala de aula. Aqui vale a inovação! Algo que, de repente, ninguém pensou ou fez. Lembre-se que, tudo que existe de novo no mundo, foi pensado por alguém que não seguiu o "padrão", que muitas vezes foi chamado de "louco" por não ficar preso dentro de padrões preestabelecidos.
"Professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas." Jean Piaget
Em relação ao pais, o que você pode fazer para ajudar seu filho? Estabelecer rotina com horário de estudo, sono e alimentação, conferir a lição todos os dias, manter um bom relacionamento com a escola e professor, estabelecer limites e deveres dentro de casa, adquirir jogos ricos em estímulos e jogar com ele, reduzindo o uso da tecnologia ( TV, celular, tablet, computador etc), levá-lo para brincar fora de casa, ao ar livre, tenho certeza que não faltará criatividade para você passar um tempo com seu pequeno.

Para finalizar, te encorajo a fazer diferente e mudar a realidade no meio em que você está inserido, dentro de casa ou na sua sala de aula. Faça a diferença! Dê o seu melhor e fuja de determinados padrões que não funcionam para todos os indivíduos. É preciso olhar o sujeito em sua integralidade, considerando sua realidade e visão de mundo, pois não existem dois mundos iguais, cada um de nós vive seu próprio mundo, criado a partir de nossas experiências e interações. Portanto, existem vários formas de aprender e ensinar!
"O que vemos muda o que sabemos. O que sabemos muda o que vemos." Jean Piaget

#GRATIDÃO

Cristiane Saraguci
Psicopedagoga e Personal Coach







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